IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL
NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE.
DIA 31/10/2012 – MANHÃ – PARTE 1
CONFERENCISTA: PROF DR JURGEN
ALTMANN / Universitat Dortmun
TEMA: "NANOTECNOLOGIA E A
INDÚSTRIA MILITAR"
A nanotecnologia nos dá muitas
promessas de revolução. Neste campo a pesquisa militar prospera. Há várias
instituições das forças armadas desenvolvendo pesquisas para uso militar da
nanotecnologia. No MIT foi fundado o Instituto para as Nanotecnologias do Soldado
pelo exército americano com volumes financeiros expressivos disponíveis para
seu desenvolvimento. Além disso, há uma extensa cooperação entre outras
instituições cujo fim é o uso militar das nanotecnologias. Os EUA estão à
frente desta corrida.
Basicamente as pesquisa do
instituto do MIT envolvem a fisiologia do soldado, sua comunicação (coleta e
transmissão de dados), seu desempenho física, controle de temperatura e defesa
contra agressões, entre outras.
Outra área de pesquisa são as
ligadas à defesa, tais como, nano ótica, nano mecânica, nano química, nano
eletrônica e nano construção, como principais núcleos de interesse.
Universidades, forças armadas, laboratórios
entre outros desenvolvem pesquisas de base em nanotecnologia com potencial uso
militar.
Algumas destas pesquisas
trabalham com a interface cérebro máquina e com a manipulação do corpo. Outro
ponto são as pesquisas que procuram desenvolver armas ou veículos de combate
autônomos. Soma-se a isto a criação de micro robôs e insetos artificiais para
uso militar.
Estas pesquisas não seriam
viáveis sem a nanotecnologia pelas imensas possibilidades obtidas com a extrema
miniaturização.
Abre-se a possibilidade de
implantes micro eletrônicos criando-se uma espécie de “ciborgue”, neste sentido
procura-se aumentar o desempenho humana através da nanotecnologia.
Outros países que desenvolvem
este campo são UK, França, Holanda, Rússia, China, mas com valores muito
inferiores aos destinados pelos EUA. Índia, Brasil e África do Sul têm iniciado,
ainda de que forma tímida, neste campo.
EUA aplica entre 80 a 90% do valor
global aplicado em pesquisa militar com nanotecnologia.
As aplicações militares dizem respeito a
materiais mais fortes e mais leves. Fontes de energia mais eficientes,
possibilidade de melhor camuflagem pela mudança de cor, etc.
Note-se que ocorre uma
convergência tecnológica bastante forte entre a biotecnologia a nanotecnologia,
as ciências cognitivas e a microeletrônica (informática).
Estas pesquisas alcançam as armas
químicas e ou biológicas buscando melhor seletividade do uso (a não aceitação
de armas de destruição em massa) e proteção mais apurada contra as mesmas.
Os EUA buscam com isto a manutenção
da atual situação de domínio.
Em particular alguns riscos podem
ser elencados tais como: sistemas de armas autônomos entre vários outros.
Como recomendação Dr. Jurgen indica
a proibição de uma série de pontos ligados a estas pesquisas, evitando-se desta
forma os perigos representados por elas.
No entanto há uma enorme
dificuldade em fazer com que os EUA submetam-se a normas internacionais
restritivas neste campo até porque estas normas não existem especificamente
para as nanotecnologias. Entendo o Dr. Jurgen que estas normas precisariam ser adotadas.
IX SEMINÁRIO INTERNACIONAL
NANOTECNOLOGIA, SOCIEDADE E MEIO AMBIENTE
DIA 31/10/2012 – MANHÃ – PARTE 2
MESA REDONDA
TEMA NANOTECNOLOGIA E IMPACTOS À
SAÚDE E MEIO AMBIENTE.
À SAÚDE: DRA ARLINE ARCURI,
FUNDACENTRO/SAO PAULO.
Nanotecnologia é o estudo ou uso
da matéria em escala entre 0 e 100 nanômetros. Isto é especialmente importante
pelo fato de que há um aumento da área superficial que determina maior
reatividade química mas também e principalmente há mudanças no comportamento do
material que passa a observar as leis quânticas. Estas mudanças podem trazer
riscos inesperados e indesejados para a saúde.
Não só o tamanho é importante,
mas uma série de outras características, tais como a forma, distribuição,
reatividade, propriedades fotoquímicas, etc.
A maior preocupação é com as
nanopartículas insolúveis que apresentam os maiores riscos.
Nanopartículas são produzidas por
várias atividades entre elas a queima de combustíveis fósseis, sabe-se hoje que
este tipo de poluição aumenta a ocorrência de doenças pulmonares.
No entanto o foco das atenções
são as nanopartículas engenheiradas (feitas artificialmente) a tal ponto que
hoje já existe um novo ramo do conhecimento conhecido por nanotoxicologia.
O importante é salientar que no
caso de nanopartículas a área superficial é uma métrica muito mais
significativa para os efeitos toxicológicos do que a massa, desta forma, os
atuais limites de exposição, baseados na massa, não podem ser usados.
Ressalta-se a propriedade de as
nanopartículas poderem ser vetores de outras substâncias tóxicas assim como
esta mesma característica é usada para aplicação seletiva de medicamentos.
Há uma grande dificuldade em
estabelecer protocolos para os testes de toxicidade.
Há uma série de estudos e
evidências que indicam que as nanopartículas não são inócuas à saúde, ainda que
não se consiga precisar exatamente seus efeitos. Dentre as principais
nanopartpiculas estudadas estão os nano tubos de carbono, a nanoprata e nano
dióxido de titânio (protetores solares).
Não só a saúde, mas todo o tecido
social será afetado pelas nanotecnologias sem que, até o momento, excluídas
ações pontuais, estejam sendo feitos estudos que possam dar conta destes
desafios.
IMPORTÂNCIA DO CICLO DE VIDA: DRA
MARIA GRICIA GROSSI / FUNDACENTRO / SP
A melhor forma de redução da
contaminação é a redução na fonte. Aborda-se especificamente a questão dos equipamentos
eletro eletrônicos (EEE) que atualmente é um grande desafio social. Categorias:
linha rança (geladeiras, lava-roupas, etc.); linha marrou (televisores,
aparelhos de som, etc.) e portáteis (aspiradores de pó, telefones celulares,
etc.). No Brasil adotou-se a logística reversa onde o produtor deve se
responsabilizar pelo descarte daquilo que produz.
Cada uma das categorias acima
apresenta uma série de matérias e substâncias que representam riscos para o
meio ambiente.
Estes produtos tem a tendência a
terem vida útil muito pequena que tende ainda a ser menor gerando uma
quantidade enorme de descartes. Aliada a esta situação encontram-se os
nanomateriais usados na fabricação dos EEE que também estarão sendo descartados
sem nenhum tipo de controle.
Individualmente cada equipamento
não é significativo, mas em conjunto a massa destes EEE não é desprezível atingindo
centenas de toneladas e, mesmo para os produtos que entram em pequena escala na
composição dos equipamentos, o conjunto apresenta quantidades significativas.
Nos celulares usam-se dois metais
raros: o tântalo e o nióbio. 80% das reservas destes minerais estão no Congo,
onde há uma guerra civil pelo controle destas reservas. Desta forma, toda vez
que usamos o celular, de alguma forma, estamos dando guarida para uma guerra e
para a exploração de comunidades vulneráveis.
Talvez como consumidores devêssemos
questionar não só as características do EEE, mas sim, de onde vem os materiais
usados para fabricá-lo e para onde irão estes materiais quando o EEE for
descartado.
Além da logística reversa (valida
para seis tipos de resíduos) o Programa Nacional de Resíduos Sólidos trabalha
com a coleta seletiva.
O desenvolvimento sustentável
está atrelado a três pilares: econômico, social e ambiental, mas, neste momento,
há uma enorme prevalência do pilar econômico sobre os demais, o que precisaria
ser corrigido.
IMPACTOS AMBIENTAIS DA
NANOTECNOLOGIA: PROF DR GUILHER LENS /EPUSP
O meio ambiente deve ser
entendido como tudo aquilo que sustenta a vida de forma direta ou indireta. O
mercado global de nanotecnologia está ligado, em 53% à indústria química, logo
esta deve ser a indústria sobre a qual nosso olhar deve preferencial estar
voltado.
Não existe um registro efetivo
sobre a quantidade de produtos que usam nanotecnologias já disponíveis no
mercado.
É importante haver uma
padronização dos aspectos ligados as nanotecnologias que permitam o
desenvolvimento de uma legislação que seja objetiva e clara quanto o que deseja
e para quem.
Atualmente existe uma grande
quantidade de processos para a fabricação de nanopartículas o que dificulta a adoção
de padrões.
A ISO tem publicado normas
específicas para nanomateriais.
O Dr. Lens preconiza o uso de
ferramenta de “control banding” para controle de riscos associados às
nanopartículas.
É necessário fazer uma abordagem
múltipla para o controle de riscos dos nanomateriais e levar em conta que uma
série de outros produtos que foram usados largamente causou mais problemas do
que trouxeram soluções como é o caso do DDT (pesticida), CFC (gás que agride a
camada de ozônio usado em sprays), talidomida (remédio que causou o nascimento
de crianças com má formação), etc.
O ciclo de vida deve ser pensado
de maneira global quando abordado sob o ponto de vista da análise de riscos.
Não é possível generalizar,
deve-se pensar caso a caso. O caminho é longo e sequer temos a estrada, será
ainda necessário planejar a estrada. As nanotecnologias exigirão a adoção de
novas ferramentas para lidar com os novos desafios. Baixa exposição não
significa, por corolário, baixo risco.